Os tradicionais quatro anos de demorada esperada chegaram ao fim, e a bola enfim vai rolar para dar início à Copa do Mundo da Rússia. Começa nesta quinta um Mundial que tem a inovação como ponto forte - desde o seu local de realização até a incorporação da tecnologia no futebol de forma nunca antes vista na história do torneio. A primeira Copa no Leste Europeu será inaugurada por um duelo pouco chamativo, entre a seleção anfitriã e a Arábia Saudita, às 12h (de Brasília), no Estádio Lujniki.
Rússia "de coração aberto"
A Copa do Mundo deixou para trás o Brasil - onde já havia desembarcado em 1950 - para chegar à Rússia pela primeira vez. O país-sede inédito deu ao torneio a oportunidade de ultrapassar uma barreira histórica e ser realizado na parte oriental da Europa, continente que mais recebeu Mundiais ao longo da história e abrigará a competição pela 11ª vez. E local de realização trará ao evento esportivo um cara bem diferente.
Nos 12 estádios espalhados em 11 cidades diferentes ao longo do território russo, o alfabeto cirílico usado no país e o idioma certamente darão um pouco mais de trabalho para os visitantes, que poderão conhecer uma cultura que por muito tempo esteve exatamente do lado oposto ao Ocidente, no período da Guerra Fria. As seleções viajarão entre locais que vão desde a capital Moscou, com cultura futebolística vasta e quatro clubes tradicionais no país, até Kaliningrado - que fica fora da extensão territorial da Rússia, localizada entre a Polônia e Lituânia.
Foto: Divulgação/Fifa
Maior país do mundo, a Rússia será palco de um Mundial que terá quatro fusos-horários diferentes. Kalingrado, por exemplo, está a cinco horas de diferença do horário de Brasília, enquanto Moscou e a maioria das sedes está seis horas à frente. Ecaterimburgo, entretanto, está oito horas adiantada com relação ao Brasil, sendo a sede mais oriental da Copa do Mundo, seguida por Samara, onde se adiciona mais uma hora com relação ao horário da capital russa.
Curiosamente, a Copa desembarca no antigo território soviético justamente em um momento de relacionamento conturbando entre o governo de Vladimir Putin e as principais potências do outro lado do mundo - por momentos como as crises da Ucrânia e da Crimeia, o envolvimento nos confrontos da Síria e nas eleições dos Estados Unidos e a acusação de envenenamento de um ex-agente na Inglaterra.
- Para nosso país, é uma grande alegria e honra receber os representantes desta grande família internacional do futebol. Vamos oferecer a vocês uma celebração real, preenchida com paixão esportiva e fortes emoções. Espero que vocês tenham memórias definitivas não só dos jogos e dos melhores times e jogadores, mas de conhecer a cultura diferente, histórica única, hospitalidade e pessoas amigáveis da Rússia. Fizemos de tudo para assegurar que nossos convidados, atletas e torcedores se sintam em casa na Rússia. Nós abrimos nosso país e nosso coração - disse o presidente Vladimir Putin em vídeo feito para os visitantes.
Por adotar uma postura um tanto quanto controversa e ser sempre lugar de destaque na política mundial, a Rússia adotou protocolos de segurança rígidos para a Copa do Mundo, quando milhares de turistas de centenas de países estarão na região. Além do investimento em detectores de metais e outros equipamentos espalhados por estádios e hotéis, uma saída do governo russo para "marcar" de perto os visitantes foi a criação do Fan ID - documento que contém todas as informações dos torcedores e de uso obrigatório para aqueles que estarão nos locais das partidas.
Copa mergulha na era da tecnologia
Apesar de estar sendo realizada em uma região inédita, a Copa de 2018 tem como inovação mais chamativa - e polêmica para muitos - o uso definitivo da tecnologia nos gramados. Há quatro anos, no Brasil, a Fifa decidiu dar um passo importante neste caminho ao adotar a tecnologia da linha do gol, mas, na Rússia, avançará bastante nesta trajetória ao dar espaço ao sistema do árbitro assistente de vídeo (VAR, na sigla em inglês).
Enquanto a tecnologia da linha do gol era automática e funcionava através de um chip na bola, sem a interferência humana, o VAR tem um conceito bem diferente, e por isso causa mais polêmica. No Mundial deste ano, os árbitros terão a opção de rever lances de gols, pênaltis, cartões vermelhos e erros de identificação e mudar suas decisões iniciais. Tudo isso, auxiliados por uma equipe que ficará em uma cabine fechada e repletas de telas com os replays das câmeras no estádio.
O juiz campo continuará sendo a autoridade máxima da partida, mas poderá receber a orientação direta do árbitro assistente de vídeo, através de um ponto eletrônico. A partir daí, caberá a ele ouvir "cegamente" a opinião da equipe que não está no campo ou rever o lance à beira do gramado, em uma tela à qual somente ele terá acesso. Os árbitros no campo também poderão, de forma espontânea em caso de dúvida, pedir a ajuda do VAR.
Visto como o futuro do futebol e a solução para impedir injustiças históricas, este sistema também causa polêmica. Não só pelos saudosistas, que não desejam a incorporação da tecnologia no esporte, mas por conta de possíveis demoras entre o lance de fato e a decisão final do juiz - o que poderia, na opinião dos críticos, diminuir a dinâmica do jogo.
Foto: Reprodução/Folhapress
Em contrapartida, muitos profissionais acreditam que o impacto do VAR na Copa será muito positivo, como o mexicano Marco Rodríguez, que trabalhou em três mundiais, sendo o último em 2014. Trabalhando como comentarista na Rússia neste ano, ele acredita que poderia ter evitado um erro grave, se tivesse os replays disponíveis há quatro anos, no lance em que Suárez mordeu Chiellini, no confronto entre Uruguai e Itália.
- Eu precisaria do VAR naquele jogo, pois eu não tinha a informação. Quando não se vê nada, simplesmente não temos argumentos. Meu feeling me dizia: "Aqui aconteceu algo importante. Alguém me ajude, não tenho informação". Os italianos me cobravam para que marcasse algo, mas eu não tinha argumentos. Com o VAR, acaba esse tipo de insucessos no Mundial. Vamos falar mais de futebol. Vai mudar a cultura do jogo, da arbitragem, do ritmo de partida. Vai ser a Copa do VAR - projetou Rodríguez.
Abertura com piores ranqueados
Apesar de ser um prato cheio para os torcedores, a Copa do Mundo da Rússia começará com uma partida não tão chamativa assim. Mantendo a tradição de a anfitriã protagonizar a primeira partida, a edição de 2018 colocará frente à frente na abertura Rússia e Arábia Saudita - no confronto entre as duas seleções com piores colocações no ranking da Fifa entre as 32 classificadas para a Copa do Mundo.
Rivais de Uruguai e Egito no grupo A, as duas equipes estão longe de serem protagonistas do futebol mundial e vivem momentos nada positivos. Os árabes venceram apenas três dos nove jogos que realizaram em 2018, tendo sido derrotados nos últimos três amistosos para o Mundial. Os russos, apesar de jogarem em casa, precisam driblar a desconfiança sobre uma equipe que não disputou eliminatórias e vem colecionando resultados - e atuações nada animadoras.
A decepção na Copa das Confederações, no ano passado, quando a Rússia caiu ainda na primeira fase, deixou a torcida local insegura com relação à participação no Mundial. Na ocasião, o time comandado por Stanislav Cherchesov não conseguiu avançar em um grupo com Nova Zelândia, Portugal e México - apesar da vitória na estreia contra o time da Oceania.
O técnico sofreu pressão, mas se manteve no cargo e chega à Copa tentando driblar as críticas e interromper o jejum de vitórias, que dura desde outubro do ano passado. Para piorar, o retrospecto recente não ajuda: desde que a União Soviética se dissolveu, os russos não conseguiram avançar às oitavas de final nas três edições de Mundial em que participaram (1994, 2002 e 2014). Do outro lado, os árabes não vencem uma partida de Copa do Mundo desde 1994.
Antes de a bola rolar e ver se a seleção local chutará para longe a desconfiança, a torcida russa poderá acompanhar a cerimônia de abertura oficial, que contará com apresentações do cantor inglês Robbie Williams e soprano russa Aida Garifullina - além da presença de Ronaldo, protagonista na conquista do pentacampeonato com a seleção brasileira, em 2002.
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