A política do país tem capítulos diferentes a cada semana. Na última terça-feira, o Senado enfrentou uma das sessões mais controversas de sua história. Os senadores se reuniram e decidiram liberar Aécio Neves (PSDB-MG) das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas engana-se quem pensa que o político se manteve distante da votação. Afastado do seu mandato e proibido de sair durante à noite pela Primeira Turma, o tucano permaneceu o tempo inteiro recolhido em sua mansão e em conversa com outros senadores pelo aplicativo WhatsApp.
Um flagra registrado pelo fotógrafo Cristiano Mariz no momento da sessão mostra o momento em que Aécio Neves recomendou a linha de discurso que um de seus aliados, o senador Antonio Anastasia, deveria fazer na tribuna. O presidente afastado do PSDB parece ansioso enquanto orienta seu amigo político. "Quem vai falar agora?", pergunta Aécio. "Sei que Telmário e eu. Mais dois", diz Anastasia.
"Importante vc repetir aquele discurso. Por favor. Direito de Defesa", escreve Aécio ao aliado. Anastasia responde com um breve "Ok" e relata a Aécio como será a votação: "O Tasso [Jereissati] vai falar. O Telmário também. São só cinco fé (provável erro de digitação) cada lado". Aécio passa outra orientação: "Faz uma defesa mesmo que rápida da minha trajetória. Se puder Rs", diz.
Antonio Anastasia seguiu o plano à risca e atacou a decisão do Supremo lembrando o "direito de defesa": "No caso concreto do senador Aécio Neves, nós estamos diante de um processo em que já há denúncia aceita e em que a defesa está completa, no âmbito do processo? Em que todo o processo penal está já concluído, em andamento, e já com a defesa formalizada? Ainda não. Nós estamos ainda numa fase inaugural, preambular, inicial do processo. Por isso mesmo, as medidas cautelares que foram colocadas por alguns ministros do Supremo, a meu juízo, não têm cabimento neste momento", discursou, lembrando a "garantia do direito de defesa é sagrada no regime democrático de direito".
O senador tucano encerrou seu pronunciamento fazendo, conforme o pedido de Aécio, "uma defesa mesmo que rápida da minha trajetória": "Também não posso deixar de acrescer a minha qualidade de testemunha, senhor presidente, do grande desempenho administrativo que teve o governador, à época, Aécio Neves à frente do governo e, de fato, o reconhecimento que os mineiros lhe deram, tanto que o trouxeram, com votação muito expressiva, ao Senado da República".
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