Com a mesma gravata colorida com as cores do Brasil utilizada quando o país foi escolhido sede da Olimpíada de 2016, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pela primeira vez desde que foi preso em Curitiba. De lá, por videoconferência, ele prestou depoimento como testemunha de defesa de Sérgio Cabral em ação penal que apura suposta compra de votos da "Rio-2016".
A fala durou cerca de 50 minutos. Especificamente sobre a denúncia, Lula minimizou. "Eu não sei qual é o critério para alguém que diz que foi trapaça (a escolha da Rio-2016). Esse senhor (procurador) não deve conhecer nada".
O juiz Marcelo Bretas, que conduziu a audiência, pediu que o ex-presidente falasse exclusivamente sobre as perguntas. Enquanto falava sobre a denúncia contra o ex-governador, foi interrompido pelo magistrado quando citou "denuncismo".
"Nunca soube de nenhuma negociata, em nenhum momento. Inclusive assinei um decreto em 2009 que coagia transparência de todos os dados. Lamento muito que tenha surgido essa denúncia 8 anos depois". Neste ponto, o magistrado pediu a palavra.
Antes das perguntas da defesa, Cabral se emocionou. Ele pediu para falar diretamente ao ex-presidente e dedicou condolências pela morte da ex-primeira dama.
"Estava preso quando Dona Marisa faleceu. Então, a transmissão dos meus sentimentos. Meu abraço ao senhor pelo falecimento da Dona Marisa. (O abraço) da Adriana (Ancelmo, ex-primeira dama do estado), meu e dos meus filhos".
Ao final, houve também espaço para o humor. O juiz encerrou o depoimento dizendo que valorizava a importância histórica de Lula e lembrou as Diretas Já. Até que o ex-presidente o convidou para um comício.
"Senhor Luiz Inácio, muito obrigado. Inclusive pela postura que se portou. O senhor é uma figura importante no nosso país, é relevante sua história para todos nós. Para mim, inclusive. Aos 18 anos estava aqui num comício na Avenida Presidente Vargas com um milhão de pessoas e eu estava lá usando o boné e a camiseta com seu nome", dizia o magistrado quando foi interrompido.
"Pode usar agora "o boné e a camisa", rebateu Lula em alusão a sua pré-candidatura apesar da prisão. E completou. "Quando eu fizer um comício agora vou chamar o senhor para participar".
Lula nega Cabral candidato à presidência
O ex-presidente disse desconhecer a intenção de aproveitar a Rio-2016 para lançar Cabral candidato. A operação sobre a qual Lula depõe investiga a suposta compra de votos para a cidade sediar os Jogos Olímpicos. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o esquema de corrupção montado pelo ex-governador Sérgio Cabral teria "comprado" votos de dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Assim que começou a prestar depoimento, o ex-presidente garantiu que "anda em busca da verdade". "Meu compromisso é com a verdade. Acredito que não haja um brasileiro que esteja mais em busca da verdade do que eu. Estou cansado de mentiras".
De terno e gravata, Lula já estava a postos às 10h15, aguardando a entrada de Cabral na sala, quando perguntou se o juiz era Marcelo Bretas. O que resultou numa brincadeira do juiz da 7ª Vara Criminal. "Não fala mal de mim não que estou ouvindo". E Lula respondeu: "Eu sei, estou vendo o microfone aqui na minha frente".
Antes do início da sessão, Cabral pediu permissão para prestar condolências pela morte da Marisa Leticia, informando que já estava preso quando a ex-primeira dama faleceu. "Aproveitar que minha família está aqui. Estava preso quando Dona Marisa faleceu, então a transmissão dos meus sentimentos. Meu abraço ao senhor, da Adriana, meu e dos meus filhos", disse o ex-governador, com olhos marejados.
Além de Lula, Pelé também deve prestar depoimento a pedido de Carlos Arthur Nuzman. Ainda segundo as investigações do MPF, foram encontrados indícios de que Nuzman teve participação na negociação. O ex-dirigente chegou a ser preso, mas foi solto após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Os procuradores afirmam que um dos votos comprados foi o de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo e, naquele momento, membro do COI. O dinheiro teria sido entregue ao filho dele, Papa Massata Diack. Lamine Diack, segundo o MPF, pode ter repassado parte dos valores para comprar mais votos.
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