Após ser empossada como governadora do Piauí em solenidade na Assembleia Legislativa, Regina Sousa participou da cerimônia de transmissão do cargo, que foi realizada no Palácio de Karnak, nesta quinta-feira (31/03).
Wellington Dias passou a faixa para a nova governadora e em seu discurso fez elogios à então vice e comentou sobre a conclusão do seu quarto mandato.
“Hoje posso sair como sempre sonhei, pela porta da frente, com minha família e com a alegria de ter contribuído com o avanço do nosso Estado, que era visto como o mais pobre do país e que hoje tem um alto Índice de Desenvolvimento Humano. Foram muitas e intensas lutas até podermos dizer que vivemos em um Piauí desenvolvido e que somos referência em diversas áreas, como saúde e educação. Vamos continuar a progredir com a primeira governadora mulher da história do Estado, combatendo o ódio com amor e as opressões com a defesa da democracia. Não abriremos mão do direito de sonhar e realizar”, disse.
A cerimônia foi acompanhada por familiares de Regina, que ficaram emocionados, além de amigos, políticos e movimentos sociais.
No seu discurso, Regina lembrou das lutas que precisou enfrentar para chegar até ali. Comentou sobre sua história, desde que foi quebradeira de coco, até sua atuação como secretária de Administração por dois mandatos e vice-governadora. Ela afirmou que seu foco é o combate à pobreza.
“Chego aqui pela lutas que encarei contra a Ditadura, pela reforma agrária, por eleições diretas, por trabalho, empego e renda, combate ao racismo, a homofobia e a violência contra as mulheres, por segurança alimentar e tantas outras que nos instigam. Serei a Regina de sempre, meio sisuda e sincerona. Quero fazer coisas pontuais, tocar em ações sensíveis à população, reforçar a segurança que o povo tanto precisa, dar atenção especial à saúde mental, trabalhar a redução da maternidade materno-infantil, entregar mais títulos de terra. Enfim, focaremos no combate à pobreza e daremos cada vez mais dignidade aos piauienses”, afirmou.
Regina comentou ainda que um dos seus grandes sonhos é inaugurar, ainda na sua gestão, que dura nove meses, um centro para desenvolvimento da cultura da paz, com o objetivo de diminuir a violência no estado. Segundo ela, a obra já está licitada e será no bairro Mocambinho, em Teresina.
Ao final, Regina agradeceu a Deus pela oportunidade e pediu que as pessoas entendam que seu mandato é curto, mas que vai fizer tudo pelo bem dos piauienses.
Ainda na cerimônia, Regina Sousa e Wellington Dias fizeram a entrega do Título Definitivo de Propriedade Coletiva do Território Tradicional de Quebradeiras de Coco (Vila Esperança), na localidade Data Coité, na região de Esperantina, Campo Largo do Piauí e São João do Arraial. Foram homenageadas, com a entrega solene do documento, as quebradeiras de coco, representantes da comunidade, Zilda Filomena da Silva (74 anos) e Valdirene Barros Conrado (34 anos).
Regina Sousa
Nascida na cidade de União em uma família de 14 irmãos, Maria Regina Sousa, 71 anos, foi a primeira mulher a assumir o Senado pelo Piauí. Em 2018, foi eleita vice-governadora do Estado do Piauí ao lado de Wellington Dias. Tem como meta trazer para a centralidade da pauta do governo a temática dos Direitos Humanos e Meio Ambiente, assim como fez enquanto Senadora da República, em que participou das Comissões Técnicas que discutiam esses assuntos no Senado Federal, onde presidiu a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.
Filha do trabalhador rural Raimundo Sousa Miranda, já falecido, e da dona de casa Maria da Conceição Silva Miranda, aos 10 anos já sabia plantar e colher feijão, milho e fava. Foi quebradeira de coco e observando o que acontecia com seus pais, que moravam em terra alheia, ainda menina, compreendeu a necessidade da reforma agrária, expressão que aprendeu com um tio militante das Ligas Camponesas, através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de União.
É fundadora da Central Única dos Trabalhadores no Piauí, da qual já foi presidente estadual e membro da direção nacional. Começou a militância sindical em 1978. Formada em Letras com habilitação em língua portuguesa e língua francesa pela Universidade Federal do Piauí. Em plena ditadura militar, deu início ao seu processo de consciência política, atuando nos movimentos sociais.
Sempre ao lado de Wellington foi vice-presidente do Sindicato dos Bancários e depois presidenta. Tornou-se presidenta do PT, o qual presidiu por seis mandatos alternados, e coordenou as campanhas vitoriosas de Lula e Wellington Dias, em cujo governo tornou-se secretária de Administração exercendo o cargo nos dois mandatos de Wellington à frente do Executivo Estadual.
No Senado, realizou audiências públicas sobre direitos trabalhistas, terras indígenas e quilombolas, violência contra a mulher e a população LGBT, previdência social, combate ao racismo, dentre outros temas. É autora de vários projetos tramitando no Senado, dentre eles o que garante mais proteção social a crianças com pai ou mãe encarcerados, permite o acervo de livros paradidáticos e de literatura infantil em salas de aula da educação infantil e dos cinco primeiros anos do ensino fundamental e o que garante transporte para mães e filhos recém-nascidos entre o local do parto e a residência e de lá ao serviço de saúde para complementação de exames.
Defende o empoderamento das mulheres como fundamental para a mudança política no país. Como também dá uma atenção especial às chamadas populações invisíveis, como as pessoas em situação de rua.
Profissionalmente, fora o trabalho na roça, começou com 15 anos, na biblioteca da União Caixeiral, colégio de classe média, em Parnaíba. Abria e fechava a biblioteca a noite, local onde leu muito e desenvolveu, mais ainda o gosto pela leitura. Também dava aula particular para alunos de escolas particulares da cidade. Em Parnaíba, uma vez formada professora pela Escola Normal Francisco Correia, deu aula na Escola Particular Dom Bosco e na Escola Eunice Weaner, da rede estadual, que era chamada “Preventório”, porque lá só estudavam filhos de pessoas com hanseníase, que na época eram chamados de leprosos. De vez em quando uma criança desenvolvia a doença e era afastada da escola, indo para o leprosário.
Em 1973, surpreendeu a família, fez vestibular para Letras, que só podia ser cursado em Teresina. Aprovada, começou a maratona de busca de emprego para viabilizar viver na capital. Procurou o Educandário Santa Maria Goretti, de propriedade das irmãs Teresinha e Tércia Leal, que conhecia de Parnaíba, tendo lá, sido auxiliar na correção do “dever de casa” dos alunos, ficando lá até 1978.
Em 1974, passou no concurso do Estado, e começou a trabalhar pela manhã na escola particular e a tarde na escola estadual Cecéu Oliveira, alfabetizando crianças. Formada em 1976, de novo fez concurso no Estado para dar aula no “ginasial”, sendo lotada no Colégio Eurípedes Aguiar. També deu aula no Centro de Cultura Francesa de 1975 a 1978, na UFPI.
Em 1982 fez dois concursos, para o INSS e para o Banco do Brasil. Foi aprovada nos dois e optou pelo Banco do Brasil, ingressando em 1983. Era o emprego dos sonhos das famílias brasileiras, à época. Antes, foi professora substituta, de Francês, no curso de Letras da Universidade Federal do Piauí, por concurso.
Já bancária, fez concurso para professora efetiva de Português da Universidade Federal do Piauí, aprovada em terceiro lugar, ficando em quinto, na prova de título, porque muitos tinham mestrado e ela não. Convocada a assumir a docência efetiva, renunciou à vaga e permaneceu no Banco do Brasil, tamanho era o engajamento político no sindicato.
FONTE; 180 GRAU
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