Os ataques criminosos no Ceará perderam força na quarta noite seguida de ações de bandidos no estado. Ao menos quatro ataques foram registrados, em Fortaleza, Maracanaú (região metropolitana) e Barroquinha (a 380 km da capital), menos do que nas três primeiras noites, quando passavam de dez ações criminosos desse tipo entre a noite de um dia e madrugada de outro.
Da última quarta-feira (2) até a manhã deste domingo (6), foram registrados quase 90 ataques no estado -os alvos foram ônibus, prédios públicos e privados, carros e até a estrutura de um viaduto, na BR-020, que liga Fortaleza a Brasília.
Na noite de sábado (5), todos os cerca de 300 integrantes da Força Nacional de Segurança enviados pelo governo federal ao Ceará foram para as ruas -eles devem permanecer no estado, a princípio, por 30 dias, prioritariamente na capital e no restante da Grande Fortaleza. Outros 100 policiais militares cedidos pelo Governo da Bahia devem chegar a Fortaleza neste domingo (6).
O envio do reforço policial foi autorizado na sexta-feira pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. Um dia antes, Moro já havia determinado providências, com a mobilização da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional.
Homens recolhem frangos mortos durante incêndio de um caminhão de uma Granja em Caucaia, periferia de Fortaleza. (Foto: Jarbas Oliveira/Folhapress)
A decisão se deu após pedidos feitos pelo governador Camilo Santana (PT). O ministro sugeriu a formação de um gabinete de crise, com a integração de polícias federais e estaduais.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) elogiou a decisão de Moro e disse que o fato de o PT comandar o estado, mesmo sendo oposição ao governo federal, não influenciaria a medida. "Jamais faremos oposição ao povo de qualquer estado e o povo do Ceará precisa neste momento", afirmou. Moro "foi muito rápido, hábil e eficaz para atender o estado, cujo governador reeleito tem posição radical à nossa (sic)."
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança, o Ceará foi, em 2017, o terceiro estado do país com mais mortes violentas. A taxa foi de 59,1 mortos a cada 100 mil habitantes. À frente do estado estiveram apenas Rio Grande do Norte (68) e Acre (63,9).
Em 2018, segundo dados divulgados pelo estado, houve queda de 10,5% na taxa de homicídios entre janeiro e novembro de 2018, comparado com 2017.
Mesmo assim, no ano passado ocorreu a maior chacina da história do Ceará, com 14 mortos durante uma festa na periferia de Fortaleza, em janeiro, e a morte de seis reféns após ação policial para evitar assalto a dois bancos em Milagres, no interior, em dezembro.
Suspeitos presos
Neste final de semana, subiu para 110 o número de suspeitos detidos ou apreendidos por participação nos ataques -76 presos e 34 adolescentes apreendidos. Na madrugada deste domingo (6), dois suspeitos, ainda não identificados, morreram, após trocarem tiros com a Polícia Militar, no bairro Granja Portugal.
Neste domingo (6), segue a operação especial nos ônibus de Fortaleza: apenas 108 dos mais de 1.100 veículos estarão nas ruas, todos com três policiais militares dentro ao longo de todo o trajeto. Ainda não está definida como será a operação na segunda-feira (7).
Nos últimos quatro dias, ações ocorreram também em presídios do estado, de onde, segundo investigação da polícia, teriam partido as ordens de membros de facções para os atentados. Foram apreendidos celulares, televisões e drogas. Há possibilidade, inclusive, de revisão da divisão de detentos por presídios com base na facção a que pertencem.
Os ataques ocorrem depois de Camilo Santana ter anunciado que uma das prioridades de seu segundo mandato será endurecer as regras em presídios, que hoje têm unidades divididas entre facções criminosas: as três mais fortes no estado são o PCC (Primeiro Comando da Capital) e GDE (Guardiões do Estado), que são aliados, e o CV (Comando Vermelho). A investigação apura se houve um acordo entre os rivais PCC e CV para realizar os ataques criminosos de maneira coordenada.
Santana criou uma secretaria exclusiva para o assunto, a de Administração Penitenciária, e escalou para comandá-la o policial civil e ex-secretário de Justiça do Rio Grande do Norte Luís Mauro Albuquerque e com função também no Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Na terça (1º), durante a posse dos secretários no Palácio da Abolição, Albuquerque disse que não reconhecia as facções criminosas e que os presídios têm que ser comandados pelo estado, não pelos criminosos- nos últimos meses vídeos de detentos com celulares nas unidades circularam pela internet.
Pedido do Pará
Depois do Ceará, agora o Pará também pediu ao ministro da Justiça, Sergio Moro, ajuda da Força Nacional para conter a violência no estado. A solicitação, feita pelo governador Helder Barbalho (MDB), chegou à pasta e está em análise.
"O Pará está mais violento que o Rio de Janeiro, proporcionalmente. O pedido feito foi por seis meses de Força Nacional no estado", disse o delegado Éder Mauro (PSD-PA), que foi ao Palácio do Planalto falar com o presidente Bolsonaro.
Não há prazo para decisão do ministro da Justiça sobre o pedido de Barbalho. De acordo com a assessoria da pasta, até agora, essas foram as únicas solicitações recebidas.
Fonte: FolhapressVisitas: 1621918
Usuários Online: 1