Até julho de 2020, a servidora pública Gabrielly Nascimento não sabia nada de bordado. Um ano depois, conseguiu reproduzir a famosa tela "Noite Estrelada", de Vincent Van Gogh. No Dia do Bordado, comemorado nesta sexta-feira (30), a jovem de 31 anos contou ao G1 que investiu na técnica para "fugir da realidade".
A rotina de trabalho presencial, cinema, shopping e restaurantes mudou. Isolada em casa, na Zona Leste de Teresina, Gabrielly Nascimento precisava de ocupações para fugir do novo cotidiano imposto pela pandemia de Covid-19.
Primeiro começou a pintar em aquarela, depois conheceu o bordado livre. Ao todo, ela já fez cerca de 50 bordados de variados temas como personagens, fauna e flora.
"Vi no Instagram algumas pessoas que faziam bordado e achei interessante. Comecei com um kit de bordado para iniciantes que comprei num dos perfis que encontrei na rede. O bordado, para mim, é mais como um passatempo mesmo, uma fuga da realidade. De tudo que já bordei, o que mais gosto são dos ipês" disse a bordadeira.
Quadro 'Noite Estrelada', de 1889. — Foto: NASA/Goddard Space Flight Center Scientific Visualization Studio
Gabrielly contou que gostava de costurar quando criança e fazia muitas roupas de boneca com retalhos. O bordado inspirado na tela "Noite estrelada", do pintor holandês Vincent Van Gogh levou cerca de 15 dias para ser concluído (imagem acima).
Em média, ela precisa de três dias para bordar algo mais "simples". O bordado com a tela de Van Gogh foi vendido depois de muita insistência do comprador.
Ipê amarelo — Foto: Arquivo Pessoal
"Comprei o risco (que é um desenho norte para o bordado) e comecei a bordar. Além de ter demorado dias, foram incontáveis tons de azul e amarelo para formar o bordado, bem complexo e trabalhoso. Porém, o retorno foi incrível e muita gente adorou. Repassei, mas queria muito ter ficado com ele", contou.
O primeiro bordado que fez foi do desenho de uma garota. No cabelo, o tipo de ponto utilizado foi o nó francês, um dos pontos mais conhecidos no bordado e utilizados por ela juntamente com ponto cheio, ponto haste e a pintura de agulha.
Garota bordada em nó francês — Foto: Ana Tereza Paz
"Assim que comecei a ver tutoriais sobre pontos e bordado livre, me apaixonei pelo nó francês. Então fiz uma garota com o cabelo todo em nó francês, com várias tonalidades de castanho e cores acobreadas. Foi meu primeiro bordado finalizado por completo", disse.
A servidora pública tem muitas inspirações no bordado como Gimena Romero, Ayeska Hübner, Mariah Escossia e a Luanna Medeiros, cada uma com suas técnicas. Gabrielly disse que não costuma comercializar seus bordados. Pontualmente, presenteia alguns amigos e familiares com as peças produzidas.
Dia do Bordado — Foto: Ana Tereza Paz
"Não costumo vender as peças que bordo. Gosto de ter a liberdade para fazer do meu jeito e no meu tempo. Não precifico porque realmente não faço os bordados com a intenção de vender as peças", relatou.
Além do bordado, Gabrielly Nascimento também nutre uma paixão pelos ipês. A árvore querida pelos teresinenses é nativa da América do Sul e em tupi-guarani, significa ‘árvore de casca grossa’. As várias espécies de ipês possuem flores brancas, amarelas, rosas, roxas ou lilás.
Ipê branco bordado por Gabrielly Nascimento — Foto: Arquivo Pessoal
As floradas acontecem entre junho e setembro, costumam durar uma semana e variam conforme o tempo seco, mas em alguns casos, como o ipê amarelo, podem durar até 10 dias. E é nesse intervalo de tempo que a jovem bordadeira e a mãe, percorrem a cidade em busca de fotografar as árvores.
"Sou viciada em ipê. Na verdade é uma herança da mamãe. Ela adora fotografar árvores, principalmente os ipês. Aí criamos o hábito de andar pela cidade para fotografar os que a gente encontrava", completou a funcionária pública.
Ipê amarelo, em Teresina — Foto: Gabrielly Nascimento
Gabrielly contou ainda que devido aos cuidados tomados desde o início da pandemia não se infectou com o novo coronavírus. Por outro lado, viu de perto do que a Covid-19 é capaz.
"Várias pessoas próximas tiveram a doença, inclusive meu pai. Por sorte, não peguei, mesmo morando com ele. Infelizmente, perdi um tio por conta da Covid-19", completou a servidora pública.
Em Teresina, grupos de bordadeiras desempenham um papel importante na vida de mulheres que recuperaram a alegria de viver e tem resgatado sua ancestralidade através da prática do bordado. Na Zona Leste da capital, o grupo Bordando Histórias de Vida foi fundado em maio de 2017 com o intuito terapêutico.
"O bordado é uma arte que resgata a ancestralidade e nos leva a um contato com nossos tios, com nossos avós. O entrelaçar da linha com o tecido alivia, acalma, traz um contato de alegria e diversão", pontua a psicóloga Delite Barros.
As peças de decoração e vestuário produzidas pelas bordadeiras são comercializados e todo o valor arrecado é doado para ajudar os projetos sociais da Igreja Católica Nossa Senhora das Candeias, no bairro Morros, Zona Leste de Teresina.
*Estagiária sob supervisão de Maria Romero.
FONTE; G1 PIAUI
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