O ano de 2015 marcou a vida de Juliana Alves. Foi em setembro daquele ano que a jovem de 27 anos descobriu o primeiro nódulo mamário que, meses depois, seria confirmado como câncer de mama. Com o diagnóstico em mãos, ela não fez da doença uma sentença. A vida da jovem se transformou pela coragem de lutar e acreditar na força da vida e, agora, dois anos depois, ela participa das atividades do Outubro Rosa - mês de conscientização da prevenção do câncer de mama - com a certeza de que encarou a doença como deveria ser: sempre acreditando na chance de cura.
As roupas coloridas, maquiagem delineada e sorriso largo antecipam, em poucos minutos de conversa, a personalidade da jovem. Juliana equilibra a firmeza de lutar pelo que acredita com a leveza de saber que deve encarar a vida na espera do melhor. Foi por isso que assimilou as orientações de um dos mastologistas que a acompanhou no tratamento. "O doutor Luís André falou que o tratamento do meu câncer seria 50% medicação e 50% psicológico, que eu tinha que aceitar a doença. E foi isso que fiz. Aceitei e lutei para minha recuperação", destaca.
Desde a adolescência, a jovem fazia acompanhamento de rotina em médicos especializados por conta de glândulas mamárias. Por isso, as idas aos médicos eram constantes e, sendo assim, a prevenção a qualquer anormalidade no corpo também. Juliana conta que a descoberta do que viria a ser um câncer aconteceu enquanto tomava banho em casa.
Juliana Alves descobriu a doença aos 27 anos e a encarou como deveria ser: sempre acreditando na chance de cura. (Foto: Jailson Soares/O Dia)
"Conto que descobri o câncer do dia para noite. Acordei um dia, tomei banho e fui trabalhar; meio dia do mesmo jeito, duas horas depois do mesmo jeito; mas às 20h, quando cheguei em casa do trabalho, fui tomar banho e senti algo diferente. Passei a mão no seio debaixo para cima e senti um nódulo grande. Aí me assustei. Marquei consulta no outro dia e fui consultar", relembra. Orientada a fazer exames de biopsia, a jovem se recorda que mesmo com a suspeita do diagnóstico, ela não se abalou.
Após consultar mais de um médico, já que um dos primeiros visitados descartou a possibilidade de câncer, Juliana buscou a informação mais precisa possível. "O primeiro médico que fui, infelizmente, foi muito infeliz nas colocações. Não era o que me acompanhava e, por isso, resolvi ouvir outras opiniões. Foi quando, em visita ao meu médico de confiança, com os resultados em mãos, ele confirmou que eu estava com câncer", explica.
Apesar do choro que a abateu dentro do consultório por lembrar como a mãe receberia a informação, Juliana fez da notícia uma missão. "Para contar foi difícil, mas eu nunca me abati por conta do resultado, fiquei preocupada por minha mãe e família", fala.
Festa para raspar a cabeça
Tão real que não se abateu que após iniciar a quimioterapia e os cabelos caírem, a jovem fez uma festa para raspar a cabeça. "Perdi meu cabelo ao som de Aviões do Forró, em uma festa que começou de manhã e foi até a noite aqui em casa. Muita gente chorou, mas eu sabia que aquilo fazia parte do tratamento", conta entre sorrisos.
"É um processo difícil, mas tenho comigo que é melhor estar viva"
Mas as consequências do tratamento, é claro, deixaram o corpo de Juliana Alves debilitado. A jovem passou por momentos de sentir náuseas, falta de apetite, insônia e fraqueza. Sensações encaradas como parte de um processo de cura. Foram, ao total, 16 quimioterapias, entre brancas e vermelhas.
Juliana também retirou uma das mamas e, para esse processo, também se mostrou consciente. "Essa possibilidade existia e eu deixei indicado para meus médicos que, se fosse preciso, poderíamos tirar as duas. Foi retirada uma das mamas e logo depois reconstruída. É um processo difícil, mas tenho comigo que é melhor estar viva", considera.
Durante todo o tratamento, o apoio incondicional da família e amigos fez toda diferença. Juliana se emociona ao contar os momentos em que familiares se mobilizaram acreditando na sua saúde. A mãe, Lúcia Alves, ressalta a admiração pela filha. "Ela é minha princesa. Eu não caí porque acreditava nela, ela sempre me complementou", diz.
Ao fim do longo tratamento, Juliana recebeu a recompensa. No consultório do médico Luiz Ayrton, ela recebeu o diagnóstico de cura. Atualmente, faz da sua trajetória uma missão de vida. Juliana é voluntária da Fundação Maria Carvalho Santos, entidade sem fins lucrativos que atua na promoção de saúde e prevenção de doenças, em especial, o câncer de mama; e constrói o grupo de apoio Divas em Forma, que surgiu em outubro de 2016 e é formado por mulheres oncológicas.
"Eu digo que não sou uma linda mulher, mas sou uma nova mulher. Eu só quero que as pessoas saibam da importância da prevenção, que cuidados com a saúde são essenciais e que é possível acreditar na cura. Por isso, me doar à essa causa tem sido uma meta de vida", finaliza.
Outubro Rosa
Seja em ações diretas de prevenção e informações do tratamento de câncer de mama, em fotografias que mostram uma visão delicada e de força de mulheres que superaram a doença ou na união de pessoas em prol da causa de prevenção do câncer de mama, o Outubro Rosa mobiliza milhares de pessoas em toda Teresina.
Exposição fotográfica faz parte das ações da campanha Outubro Rosa em Teresina. (Jailson Soares/O Dia)
Segundo o mastologista Luiz Airton, presidente da Fundação Maria Carvalho Santos, dados apontam que o câncer de mama, em via de regra, atinge mulheres de 45 a 55 anos. Contudo, tem se mostrado frequente em mulheres mais jovens.
Na programação da tradicional Caminhada Rosa, que acontece neste domingo (8), está prevista ainda a realização de 1.200 mamografias em mulheres com faixa etária de 40 a 60 anos. Orientações a diagnóstico genético ou familiar, com disponibilização de exame a um custo simbólico, além de um balcão de denúncia, para que a população relatar dificuldades de acesso ao tratamento.
Superação do câncer faz perspectiva de vida se ampliar
É no Outubro Rosa que as discussões sobre prevenção do câncer de mama se intensificam. A doença acometeu mais de 60 mil pessoas somente em 2016, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A prevenção é a principal arma contra os efeitos da doença, que tem sua chance de cura aumentada com o diagnóstico precoce.
Patrícia Cavalcante integra a linha de vida dos pacientes que alcançaram a cura por meio do tratamento e da mudança do próprio estilo de vida. No ano de 2015, a técnica de enfermagem fez exames de rotina que apresentaram normalidade, mas, três meses depois, ao fazer o autoexame, sentiu algo de diferente no seio. "Apesar de fazer pouco tempo dos exames, eu fui procurar minha médica porque senti algo diferente. Logo depois, com o resultado, foi identificado o câncer", explica.
Patrícia escolheu não deixar se curvar pelo medo do diagnóstico da doença. (Foto: Elias Fontenele/O Dia)
Mãe de três filhas e com dois netos, ela escolheu não deixar se curvar pelo medo do diagnóstico. O resultado assustou, mas não intimidou Patrícia. A crença na cura, a disposição para o tratamento e o apoio de familiares e amigos foram detalhes que impulsionaram o caminho para a cura. "Depois das primeiras quimioterapias, quando o cabelo caiu e cortei, eu comprei uma peruca bem bonita, vermelha e fui ver minha irmã. Chegando no local, ela se assustou e disse: 'Patrícia você cortou e pintou o cabelo?'. Sorri e disse que sim, porque era a prova que, mesmo com a peruca, tudo continuava igual", ressalta.
Na sua rotina, não faltavam o cumprimento das atividades domésticas, idas ao Centro, à missa e tudo que sempre fizera parte da sua vida antes. "Minha médica disse para levar minha vida normal e assim eu fiz. A gente fica abalada? Fica. Mas eu encarei o câncer como uma doença normal. É isso que as pessoas têm que perceber", alerta.
Novos horizontes
Mas algumas transformações ficaram latentes. Ela conta que uma mudança que o tratamento a fez enxergar foi a necessidade de ter tempo para si. "Eu trabalhava muito, sempre estava ocupada em duas UTIs. O câncer me mostrou que eu tenho que ter tempo para mim, me amar, me cuidar, me aproveitar", constata entre sorrisos.
Este ano, vai ser a primeira vez que ela participa das atividades do Outubro Rosa porque, apesar do desejo que já acompanhava há muito, as desculpas pela falta de tempo sempre impediam uma participação mais ativa. "Esse ano vou pela primeira vez na caminhada do Outubro Rosa, de muitas outras que virão. O recado é que se o chão cai, a gente apanha ele de novo. É tempo de se cuidar, de olhar para nós, de se preocupar com nossa saúde", destaca.
Patrícia, hoje, é voluntária do grupo de mulheres Divas em Forma, que funciona com o intuito de realizar a troca de apoio mútuo desde o momento do diagnóstico, durante o tratamento, em atividades físicas, entre outras. Hoje, o grupo já conta com mais de 70 participantes e conta com auxílio de voluntários.
Paciente defende fim ao estigma em torno da doença
A professora Vanessa Nascimento foi diagnosticada com câncer em 2009 e, desde então, sua vida mudou completamente. "O câncer não é só uma sentença de morte, pelo contrário, precisamos quebrar esse estigma. Então, as pessoas não precisam ter medo da palavra 'câncer', esse é o primeiro passo para enfrentar a doença, perdendo medo do nome. O câncer leva a gente a refletir sobre o verdadeiro significado da vida, valorizando aquilo que é importante, como a família e amigos", disse.
Para Vanessa, o câncer foi um divisor de águas e o Outubro Rosa serve como um alerta para que as mulheres tenham mais atenção com sua saúde. Ela destaca que é preciso ficar mais atenta e sensível com seu corpo e com a pessoa próxima que está passando por um caso semelhante. A professora ainda salienta que essa troca de informação é fundamental para combater a doença e novos casos.
"Quanto mais se discute, mas diminuímos o risco de novos casos. É preciso que a informação chegue a todos, principalmente quando falamos de prazo. O SUS cobre o tratamento, apesar de ser bastante demorado e ainda acontecer da máquina estar quebrada. Mas há muitas clínicas que dispõem desse tratamento, que disponibilizam através do plano de saúde", fala. Segundo Vanessa, que também é membro do grupo Divas em Forma, as mulheres oncológicas necessitam de um acompanham profissional, apesar de poder fazer qualquer atividade, porque há uma limitação de braço, entre outras questões que envolvem a saúde da mulher.
"Esse grupo saiu da atividade física e migrou para a parte do convívio e troca de experiência. Trabalhamos o apoio dessas mulheres umas com as outras, porque elas precisam ser ouvidas e, geralmente, só entende quem passou por isso. Nós acompanhamos as colegas em quimioterapia, fazemos animação, promovemos eventos como forma de fortalecer nosso vínculo e se sentir amparada", disse Vanessa.
Por: Glenda Uchôa e Isabela LopesVisitas: 1623033
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